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GêneroTambor de Mina
LocalMaranhão, São Luís

SOBRE

A Casa das Minas, ou Querebentã de Zomadônu, localizada na Rua São Pantaleão, 857, Centro de São Luís, é a mais antiga casa de religião afro-brasileira do Maranhão e uma das mais antigas do Brasil. A memória oral, transmitida entre as gerações, conta que a Casa das Minas foi fundada por Maria Jesuína – que adorava Zomadônu e que teria passado pelo ritual para se tornar mãe ainda na África. Poucas informações sobre a fundadora da casa foram repassadas pelas integrantes mais velhas às mais jovens, entretanto há a possibilidade de Maria Jesuína ter sido a Rainha Nã Agotimé, ou ter sido filha de santo dela, apesar do nome da rainha não ser reconhecido pelas filhas da casa.

O documento mais antigo de que se tem notícia sobre a Casa das Minas é a escritura do prédio da esquina, data de 1847 e está em nome de Maria Jesuína e suas companheiras. As primeiras mães, chefes da casa, eram africanas. Um templo onde todos os seus espaços são sagrados, a Casa das Minas ocupa uma área de 1.500 m2, em um bairro populoso e antigo, e é composta por três edificações térreas, sendo duas geminadas, interligadas internamente por um pátio central, constituindo um formato de U. Duas delas foram construídas no século XIX, uma, na primeira metade, e outra, na segunda; e a terceira, na segunda metade do Século XX.

A comunidade da Casa das Minas é composta em sua maioria por mulheres, que detêm papéis e cargos importantes. Os homens têm atuação específica e limitada, com a função principal de tocar os tambores (eles não recebem voduns). É um grupo religioso discreto e muito tradicional que cultua divindades chamadas de voduns: entidades a quem se pede ajuda; que possuem defeitos e estão espalhados para administrar o universo; que estão hierarquicamente entre os homens e os santos e, assim, fazem o intermédio entre eles.

Os cultos e ritos promovidos pela Casa das Minas são dirigidos aos cerca de 45 voduns cultuados. O toque dos tambores e os cânticos os chamam. Cada médium só pode ter um vodun, entretanto este pode ter mais de uma filha, também chamada de dançante. Enquanto estão de posse das vondúnsis, os voduns não comem, não bebem e não dormem, de modo que eles não podem ficar horas demais para não debilitá-las. Como o vodun é força, o médium precisa se preparar para recebê-lo. Cada vodun tem um papel específico junto à natureza – água, ventos, plantas, doenças – e adora um santo. Assim sendo, as pessoas pedem ajuda ao vodun e este pede a seu santo de adoração.

As cerimônias, divididas em uma parte pública e uma privada, acontecem majoritariamente em dias de importantes santos católicos. Segundo Ferretti (1996), são realizadas aproximadamente dez festas por ano, divididas nas seguintes categorias: festas de aniversário de voduns, festa do Divino e festas de obrigação. As de aniversário devem ser promovidas pela dançante daquele vodun e tem duração de um dia. A do Divino dura cinco dias e ocorre entre os meses de maio e junho. As de obrigação são especiais, duram três dias e não podem deixar de ser realizadas. São elas: 4 de dezembro, dia de Santa Bárbara; 25 de dezembro; 19, 20 e 21 de janeiro, quando se comemora São Sebastião; antes do carnaval; Quarta-feira de Cinzas; Sábado de Aleluia.

A continuidade da Casa das Minas vem sendo objeto de preocupação de estudiosos. As atividades da Casa das Minas são exercidas com rigidez, fazendo com que novos integrantes não se sintam atraídos. O quadro reduzido de participantes, a perda de rituais importantes, a preservação dos segredos (sem serem repassados), o crescimento de religiões pentecostais e a perseguição a terreiros contribuem para seu declínio. Mesmo assim, a Casa das Minas prossegue realizando suas obrigações e vem estabelecendo estratégias para a continuação de suas atividades, a exemplo da promoção de festas do catolicismo e da cultura popular. Cabe destacar que, ainda que haja um processo de declínio, a Casa das Minas é um exemplo de resistência, visto que outras casas da mesma época não existem mais.

Em 2000, como uma forma de resistência e permanência, assim como de reconhecimento dos quase duzentos anos de atuação, a chefe da casa solicitou o tombamento da Casa das Minas em nível federal. O pedido foi uma demanda ao Estado por valorização e por proteção jurídica de seu espaço físico, garantindo assim sua continuidade. O Parecer da 3ª Superintendência Regional do Iphan, que recomenda o tombamento do terreiro, destaca seu inegável valor etnográfico “apesar do suposto fim da vida ativa da Casa das Minas”.

Em defesa do tombamento, Ferretti (2000, p. 6) alega:

“A Casa das Minas é um dos exemplos mais expressivos de afirmação de identidade étnica por afro-brasileiros e de valorização de uma cultura, mesmo quando esta não é vista pelos de fora como a mais evoluída ou autêntica. Por essas e outras razões, merece ser tombada como bem cultural pelo patrimônio histórico.”

Em 2005, o terreiro da Casa das Minas (o imóvel) foi inscrito como patrimônio nacional no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico reconhecendo sua importância e, consequentemente, a contribuição do negro para a construção da nação brasileira.

 

Fonte:

– Morim, Júlia; Casa das Minas / Querebendã de Zomadônu

FOTOS

Casa das Minas – 29/06/1999
Casa das Minas – Ladainha – 03/07/2001

 

ÁUDIOS

Casa das Minas (2002)
Toque para Santa Bárbara (1999)
Toque para Badé (1999)

 

VÍDEOS

Casa das Minas – Festa do Divino – 2009

Veja também

Maranhão
Bambaê/Carimbó de Caixa